Giovanni Vescovi. Sandro Mareco. Alexandr Fier. Quem conferia a lista de inscritos do Aberto do Brasil Victor Adamowski, com três dos melhores Grandes Mestres da América do Sul, dificilmente iria imaginar que algum deles conseguisse vencer as sete rodadas em Maringá. Nem mesmo a musa Larissa Riquelme – que ganhou projeção mundial no papel de torcedora do Paraguai durante a Copa do Mundo de futebol na África do Sul, em 2010 – teria apostado que o GM paraguaio José Fernando Cubas seria o campeão invicto da competição.
No entanto, quando os relógios foram acionados em Maringá, GM Cubas se sentiu “em casa”, um peixe dentro d’água em seu habitat natural. Á frente de seu exército de peças de xadrez, ele comandou, à la Galopera, um verdadeiro baile nos tabuleiros. Pôs na roda o 1º Grande Mestre de Xadrez nascido em Maringá – mas que hoje joga por São Paulo – GM Everaldo Matsuura; superou o enxadrista nº. 1 do Brasil e atual campeão brasileiro GM Giovanni Vescovi; e fechou a conta com uma vitória sobre o GM Alexandr Fier.
Dois invictos até a 5ª rodada
A disputa pela liderança do torneio começou aberta e foi se afunilando aos poucos durante a competição. O enxadrista com o maior rating do torneio, GM Giovanni Vescovi, era “o homem a ser batido” na competição. No entanto, o número 1 do Brasil acabou empatando com o MI argentino Leandro Perdomo na 4ª rodada, deixando o T1 pela primeira vez no torneio.
O outro TOP 5 do Brasil, GM Alexandr Fier, empatou com o jovem enxadrista paulista Luis Paulo Supi, uma das revelações do torneio, na terceira rodada. O argentino GM Sandro Mareco, já conhecido pelos fãs do xadrez no Paraná por ter participado dos Jogos Abertos do Paraná defendendo a equipe de Campo Mourão, também cedeu um empate; no seu caso, para o MF Ernani Francisco Choma, atual campeão paranaense, também na 4ª rodada.
Os empates acabaram confrontando na 5ª rodada GM José Fernando Cubas e GM Everaldo Matsuura. Em uma partida eleita pela organização como “a mais bonita do torneio”, o paraguaio manteve o domínio de uma posição dinâmica, defendendo com eficiência e finalizando com ataques arrasadores – sua marca registrada na competição -, derrubou o último atleta 100% no torneio além dele próprio. “Ele [Cubas] me pressionou do início ao fim. O arremate da partida foi perfeito. Esse era o torneio dele”, avaliou o GM Matsuura, pouco depois da cerimônia de premiação do torneio.
Herói brasileiro sucumbiu ao valente paraguaio
Não há um enxadrista no Brasil que nunca tenha ouvido falar do GM Giovanni Vescovi. 7 vezes campeão brasileiro (1999, 2000, 2001, 2006, 2007, 2009 e 2010), atual campeão nacional universitário e enxadrista número 1 do Brasil, ele é uma referência para todos os atletas da modalidade, um verdadeiro ídolo do xadrez brasileiro. E foi esse gigante do xadrez nacional o adversário do GM Cubas na 6ª rodada.
A torcida, já impressionada com a partida anterior do paraguaio, acompanhou com especial interesse o confronto. No jogo, o paraguaio ensinou uma nova lição: quanto vale um peão?
Os enxadristas iniciantes diriam sem titubear que vale 1 ponto, embasados na teoria das trocas. No entanto, enxadristas de alto nível analisam a complexidade da posição, enxergando sempre compensações para eventuais perdas materiais. E foi assim, cedendo um peão para o GM Vescovi, que o GM Cubas mudou o rumo – e o resultado – do jogo. Mais uma vitória na conta do avassalador paraguaio. Para Vescovi, a derrota significou a perda do título, uma vez que sua pontuação não podia mais superar a de Cubas. No entanto, ele continua – e continuará sendo – um ídolo para os enxadristas brasileiros. Tanto que, na cerimônia de premiação, fez um discurso enaltecendo o torneio – em especial a participação em peso das meninas na competição – e foi aplaudido de pé pelos presentes.
Campeão com dignidade
Enquanto os GMS Cubas e Vescovi se enfrentavam na 6ª rodada, outra dupla de GMS decidia quem seguiria vivo na disputa do título. Alexandr Fier superou o argentino Sandro Mareco e ganhou o direito de sentar-se no T1 para enfrentar o GM José Fernando Cubas valendo o título de campeão e um cheque de R$3 mil. Fier precisava da vitória, enquanto um empate era o suficiente para Cubas garantir o título.
Acompanhando o desenlace final do torneio, o público só se afastava da mesa para comentar, aos sussurros, o desempenho dos enxadristas na partida. Novamente, a captura marota de um peão pelo GM Fier acabou deixando o GM Cubas com uma pequena vantagem posicional, que ele administrou até garantir uma vantagem material e, finalmente, a vantagem decisiva. Finalmente, o brasileiro abandonou a partida, garantindo um campeão com 7 pontos em 7 jogos.
Após o torneio, o GM José Fernando Cubas mostrou humildade ao comentar o resultado. “Em um torneio com grandes mestres do nível de Vescovi, Fier, Mareco e Matsuura, se amanhã fizéssemos um novo emparceiramento, com os mesmos jogadores, o resultado final seria totalmente diferente”, opina.
O resultado neste torneio deixa Cubas mais próximo do seu objetivo na temporada: chegar aos 2600 pontos de rating Fide. “Nas Olimpíadas joguei boas partidas contra adversários que tinham em torno de 2700 de Fide, então pensei comigo mesmo: por que eu não posso ter um rating maior também?”, revela o paraguaio.
