Sexta pra Sábado – Kasparov no Jô


Kasparov diz que xadrez melhora as relações sociais

 

“O gênero humano tem passado pelo seu pior período de desenvolvimento. Só o que temos é progresso incremental, baseado em invenções dos anos 1950 e 60”, diz o enxadrista
Publicado em 31 de agosto de 2011

Marília Kodic

Na manhã desta quarta-feira (30), o enxadrista russo Garry Kasparov participou de um café da manhã para convidados no hotel Sheraton WTC, em São Paulo.

Há três dias no Brasil, Kasparov iniciou o bate-papo, que teve duração de aproximadamente 1h, falando sobre a diferença que notou no país em relação a alguns anos atrás: “O Brasil é uma democracia e sua economia está crescendo. Isso é um ótimo sinal para pessoas de países autoritários, como o meu, onde os governantes sempre insistem que só uma mão pesada pode garantir prosperidade”, disse.

Em seguida, falou sobre os benefícios que o xadrez pode levar aos jovens: “Estabelecer disciplina e pensamento lógico, melhorar a atitude e a auto-estima, criar melhores relações com grupos sociais diferentes e gerar melhores resultados acadêmicos”.

Em relação a este último, deu como argumento um episódio acontecido na Alemanha, onde foram analisadas as habilidades matemáticas dos alunos de duas salas, uma que tinha aulas extracurriculares de xadrez, e outra, de matemática, em que a primeira saiu-se melhor.

Contudo, ao ser indagado sobre o uso das habilidades no xadrez para contribuir para a sustentabilidade no mundo, alertou que “não se pode usar o xadrez como solução definitiva para todos os problemas intelectuais. É meramente uma ferramenta que ajuda a melhorar sua visão enquanto está tomando uma decisão – mas a tomada de decisão é tão única nos seres humanos quanto impressões digitais ou DNA”.

Ao falar sobre o “Deep Blue”, supercomputador criado pela IBM que o derrotou em 1997, minimizou a importância do software, alegando que os computadores de hoje em dia são infinitamente mais sofisticados por possuírem conhecimentos psicológicos. “Descobriram como ensinar uma máquina a correr riscos. Como você diz a uma máquina que sacrificar um peão pode compensar para conseguir um ataque ao rei? Pois conseguiram”, disse.

Kasparov também destacou que os computadores têm um “tremendo efeito” no modo com os jogadores de xadrez se preparam hoje em dia: “hoje, todo Grão-Mestre de 16 anos sabe mais do que o Bobby Fischer sabia 40 anos atrás”, declarou.

O enxadrista também falou sobre a vontade de criar duas fundações, em São Paulo e Buenos Aires, dedicadas ao ensino do xadrez nas escolas, projeto que pretende concluir em fevereiro do ano que vem. “Acredito que será de enorme ajuda ao desenvolvimento intelectual dos países”, disse.

Por fim, Kasparov falou sobre seu novo livro, The Blueprint (WW Norton, US$ 26,95, ainda sem previsão de lançamento no Brasil), escrito em conjunto com Peter Thiel e Max Levchin, fundadores do Pay Pal, que fala sobre a atual falta de descobertas tecnológicas.

“Nos últimos 10 anos, o gênero humano tem passado pelo seu pior período de desenvolvimento tecnológico. Só o que temos é progresso incremental, baseado em invenções dos anos 1950 e 60”, disse, dando como exemplos a invenção do GPS, em 1963, e o envio da primeira mensagem por comunicação wireless, em 1969. “O livro inteiro é provocativo”.

Paulo Virgilio e Garry Kasparov em São Paulo