As pedras do caminho


O Aberto do Brasil Victor Adamowski começa amanhã em Maringá, e lista de inscritos já chega a 145 nomes. Dentre eles, mais de 20 enxadristas são detentores de algum título FIDE – Grande Mestre, Mestre Internacional ou Mestre Fide.

Na série de reportagens sobre o torneio organizadas neste blog, você já conferiu informações a respeito do torneio, da cidade e do homenageado. Agora, se o seu objetivo é vencer o torneio – ou pelo menos fazer a melhor campanha possível – fique por dentro do que pode estar esperando por você a partir de amanhã.

Top 5

GM Giovanni Vescovi

GM Giovanni Vescovi é o jogador nº 1 da lista no Aberto do Brasil de Maringá (Foto: Divulgação)

 

O atual campeão brasileiro dispensa apresentações. Nascido a 14 de junho de 1978 em Porto Alegre – RS, mudou-se ainda jovem para São Paulo. Aos 8 anos de idade, começou a treinar xadrez no Clube Paulistano, tradicional clube da cidade. Foi do aristocrático clube do Jardim América que Vescovi se levantou para o xadrez. Tornou-se MI aos 15 anos, conquistando o título de GM aos 20. No ano passado, conseguiu a exorbitante marca de 2660 pontos de rating. Fechou o ano vencendo os Jogos Universitários Brasileiros pela UNIP –  terminando a competição com 100% de aproveitamento – e também o Campeonato Brasileiro, levantando a taça pela 7ª vez.

Campeão Brasileiro: 7 vezes campeão – 1999, 2000, 2001, 2006, 2007, 2009 e 2010.

 

GM Sandro Mareco

Argentino disputa os Jogos Abertos do Paraná por Campo Mourão ( Foto: chessbase.com)

 

O Hermano Sandro Mareco não é um desconhecido do público local. Nascido em 13 de maio de 1987, na Argentina, nos últimos anos se destacou defendendo a equipe de Campo Mourão nos Jogos Abertos do Paraná, competição em que atualmente é considerado “o homem a ser batido” no torneio. Neste torneio, no entanto, ele não aparece como soberano absoluto, tendo fortes concorrentes brasileiros que não pretendem deixá-lo ficar com o título facilmente.

GM Alexandr Fier

Jovem brasileiro é um dos favoritos para levar o título ( Foto: chessbase.com)

 

Um dos principais destaques brasileiros no xadrez também não é um desconhecido de ninguém. Alexandr Hilário Takeda dos Santos Fier nasceu a 11 de março de 1988, em Joinville – SC. Dono de um senso tático diferenciado e um estilo agressivo, Fier começou ainda muito jovem mostrando o que seria capaz de fazer. Em 2004, a seleção brasileira participou das Olimpíadas desfalcada de seus principais atletas, e acabou formando uma equipe unindo veteranos, como os GMS Darcy  Lima e Henrique Mecking, o Mequinho, e jovens talentos, como o jovem catarinense, que na época tinha apenas 16 anos.

As Olimpíadas colocaram frente a frente o então MF Fier contra o GM Bu Xiangzhi, um gênio chinês que conseguira o título de Grande Mestre com apenas 13 anos de idade (ainda hoje, um dos mais jovens – embora já tenha perdido o posto de “O” mais jovem – enxadristas a realizar o feito). Pois Fier mostrou agressividade e perícia do início ao fim, dominou completamente o chinês e voltou para o Brasil já como MI, há poucos passos do título de GM. Desde então, manteve o alto nível de seu xadrez, vencendo o Campeonato Brasileiro de 2005 e, mesmo com a volta dos principais enxadristas do pais à seleção, mantém-se na equipe até hoje.

 

MI Jose Fernando Cubas

Paraguaio é o único MI no Top 5 (Foto: Divulgação)

 

O enxadrista paraguaio mais conhecido do Paraná sem dúvida alguma é o MF Patriarca, que imortalizou seu nome na história dos Jogos Abertos representando a cidade de Foz do Iguaçu. No entanto, seu conterrâneo Cubas já provou que não pode ser subestimado. Nascido no Paraguai a 9 de abril de 1981, o Mestre Internacional tem 2505 de rating FIDE, marca superior a do GM Everaldo Matsuura.

 

GM Everaldo Matsuura

Everaldo Matsuura joga em Maringá pela 1ª vez após se tornar Grande Mestre (Foto: Divulgação)

 

Entre os enxadristas do TOP 5, quem tem relações mais estreitas com Maringá sem dúvida alguma é Everaldo Matsuura. Nascido a 1 de outubro de 1970, ele foi o primeiro maringaense (nascido em Maringá) a ganhar o título de Grande Mestre, no ano passado.

Filho de Queenti Matsuura, membro fundador do Clube de Xadrez de Maringá e um dos grandes nomes do xadrez maringaense, acabou herdando o gosto pelo hobby do pai. E não é o único da família a trilhar o caminho dos tabuleiros. O irmão, Horácio Matsuura, foi o atleta mais jovem a conseguir o título de Campeão Paranaense, em 1983, quando tinha 18 anos e três meses. Horácio venceu novamente em 1984, e o irmão deles, Frederico Matsuura, foi o campeão em 1989. Everaldo foi o último dos irmãos a conquistar o título, sagrando-se campeão apenas em 2002. No entanto, enquanto os irmãos desfrutaram de outras oportunidades profissionais, Everaldo Matsuura fez do xadrez sua profissão. Tanto que, embora pareça ter “demorado” para sagrar-se campeão paranaense, em 1991 ele já faturou um Campeonato Brasileiro.

Voltando à Maringá para disputar o Aberto do Brasil, o enxadrista precisa provar, acima de tudo, que santo de casa pode, sim, fazer milagres.

Publicado em Aberto do Brasil – Maringá, Notícias | 2 Comentários »

Agradecimentos especiais à Jair Osipi pela colaboração nesta entrevista

Campeão Paranaense do interior, vice-campeão brasileiro de aspirantes, 12 vezes campeão dos Jogos Abertos do Paraná. Até 2004, ano em que se aposentou definitivamente da seleção maringaense de xadrez, não existia enxadrista no Paraná que nunca tivesse ouvido falar no nome de Victor Adamowski.

Victor Adamowski, atleta que mais vezes participou dos Jogos Abertos do Paraná (Foto: Johnny Katayama)

O xadrez entrou na vida de Adamowski quando ele tinha pouco mais de 10 anos, e foi literalmente uma caixinha de surpresas. Era comum na época colecionar álbuns de figurinhas e, para cada coleção completada, era possível trocar o álbum por um prêmio. Quando o jovem Victor Adamowski finalmente conseguiu todas as figurinhas para trocar por uma bola de futebol – seu sonho de consumo à época -, foi informado pelo dono da loja que as bolas haviam acabado, o único prêmio que restava era um jogo de xadrez. Parecia que o destino conspirava para o surgimento do grande enxadrista que viria a se tornar.

Foi com esse primeiro tabuleiro que ele aprendeu os primeiros movimentos das peças, e desde então nunca mais largou delas. Além de uma carreira com incontáveis títulos e troféus, possui no currículo um recorde que ainda vai perdurar por longos anos: 45 participações nos Jogos Abertos do Paraná. Desde 1957, ano da 1ª edição dos JAPs, até sua aposentadoria do esporte em 2004, esteve presente em todas as edições do torneio.

Em uma época que não existiam programas de computador e arquivos online das partidas, Victor Adamowski tornou-se uma verdadeira enciclopédia do xadrez. Apaixonado pelo esporte, ele adquiria inúmeros informadores, revistas e livros da época, anotando as variantes que mais lhe agradavam em cadernos. Ao todo, foram mais de 200 cadernos preenchidos com o conhecimento enxadrístico adquirido por seus estudos. Ainda hoje, os cadernos teóricos de Victor Adamowski são uma excelente fonte de conhecimento para quem tem o privilégio de consultá-los.

Adamowski entrou para a equipe de Maringá em 1963, ano que a cidade foi sede dos JAPs. Desde então, assumiu o posto de principal jogador do time, mantendo-se na equipe por duas (alguns consideram até mesmo três) gerações de enxadristas. Tamanho era o respeito que adquiriu como jogador que a organização dos Jogos Abertos do Paraná instituiu, nos anos 80, o Troféu Victor Adamowski, que seria entregue à primeira cidade que vencesse o torneio de xadrez por 3 anos consecutivos. Logo após o troféu ser criado, Maringá acabou ficando com a posse definitiva do troféu.

Quando foi seu primeiro torneio?

Foi em 1949, quando fui campeão do interior e acabei indo para Curitiba disputar o Campeonato Paranaense. O campeão sairia de um melhor de 7, e acabei perdendo de 4 a 0. Naquela época, meu adversário disse que eu tinha uma boa intuição para o xadrez, mas ainda me faltava teoria. Foi aí que eu comecei a comprar livros de xadrez e estudar.

Foi a partir daí que surgiram seus cadernos teóricos?

Comecei a comprar livros, informadores, vários materiais sobre xadrez. Sempre que encontrava algo interessante, anotava em um caderno. Por fim, um caderno acabou sendo pouco para escrever tudo, acabei comprando outro, e mais outro, e assim foram mais de 200 cadernos.

E quando você começou a disputar os Jogos Abertos do Paraná?

A primeira edição dos jogos foi em Londrina, em 1957, em Londrina. Na época, eu jogava por Paranavaí. Eram 3 jogadores por cidade naquela época. Eu venci todas as partidas, mas geralmente nós perdíamos por 2 a 1. Só consegui ser campeão quando comecei a jogar por Maringá.

E como foi sua vinda para a cidade?

Foi meio que por acaso. Estava visitando alguns parentes em Maringá, mas tinha planos de ir morar em Apucarana. Foi quando encontrei o Rubens Carlos de Jesus [tio de Jomar Egoroff, atual capitão da seleção de Maringá], que jogava por Maringá e me convidou a ficar. Acabei ficando na cidade, entrei para o time, que também tinha o Dr. Queenti Matsuura [pai do GM Everado Matsuura], e formamos um time competitivo.

Além de jogador, você também se tornou treinador em Maringá?

Sim. No início, como eu era mais experiente, passava o que eu sabia para meus colegas de time. Depois foram surgindo outras pessoas, alguns mais novos. O Jair Osipi e o Jomar Egoroff, por exemplo, que desde o começo já mostravam que eram diferenciados. Depois surgiu uma nova leva com o Leonardo Facci, o Victor Yamamura, os Kakitani…

E desde que você chegou em Maringá, em 1963, nunca mais saiu do time?

Disputei todas as edições dos Jogos Abertos do Paraná até 2003 [em 2004, apesar de estar oficialmente inscrito na competição e ter o título de vice-campeão naquele ano, Adamowski não viajou com a delegação para Foz do Iguaçu]. Joguei ao lado de muita gente. O Rubens [Rubens Carlos de Jesus] que até já faleceu, o Dr. Queenti [Queenti Matsuura]. Alguns anos depois conheci o Herman Claudius [MI Herman Claudius Van Riemsdijk] em um torneio em Minas Gerais, e ele acabou vindo morar e jogar por Maringá. Teve uma edição que Maringá não tinha time para competir. Eu chamei dois jogadores e inscrevi meu neto para jogar na equipe. Que esporte permite que você jogue lado a lado com um neto? Só no xadrez mesmo.

Qual é o título que você considera o mais importante da sua carreira?

O de Vice-Campeão Brasileiro de aspirantes, em 1967. O torneio foi em Juiz de Fora – MG. Naquela época, me lembro de ter conhecido o Itamar Franco, que era o prefeito da cidade naquela época, e acabou se tornando Presidente da República.